Introdução
O objetivo deste trabalho, é desenvolver a habilidade de pensamento em direção ao entendimento das dores emocionais. Suas origens podem estar muito além das estruturas tradicionalmente oferecidas pelo coletivo, como família ou ego. São dores cristalizadas na alma a muito tempo, que precisam ser vistas e entendidas de uma vez por todas, para que elas não se tornem mais nossa própria herança.
É importante abordarmos a questão dos transtornos de personalidade como algo que ultrapassa as fronteiras do palpável ou nomeável para enfim nos despedirmos da necessidade arcaica de embalar tudo em caixas etiquetadas com tipos e sub tipos de personalidade, e olharmos para o que realmente devemos olhar: o “ser espiritual que somos”
Cada ser é único, é um universo de possibilidades, expectativas, frustrações, traumas, culpas e remorso sem fim. São justamente essas possibilidades que nos acorrenta a dores passadas, e a mente sempre encontra uma forma de nos cobrar.
Não existe outra forma de se libertar de suas dores sem conhecer a si mesmo, e conhecer-se é muito mais do que saber definir seu nome, classe social, profissão ou identidade de gênero com a qual se identifica. Conhecer-se é, em primeiro lugar, aceitar que é um ser espiritual, que está além das coisas mundanas e egóicas, e isso por si só, já é um grande desafio para a maioria das pessoas.
Conhecer-se é despir-se de conceitos e pré-conceitos. É uma descoberta pessoal, e praticar o “ser espiritual”, também é.
O objetivo não é fazer uma miscelânia de ideologias religiosas, pois não se trata de doutrinação religiosa, mas sim de uma abertura mais consciente do que realmente significa praticar a espiritualidade, especialmente quando se trata de auto conhecimento e busca pessoal.
É um convite para quem tem coragem de olhar por cima do muro e se atrever a romper padrões tradicionais de tratamento destes transtornos emocionais que provém da alma. É preciso desembaraço para abandonar conceitos doutrinários de que nascemos como uma folha em branco.
Durkhein certa vez disse que: “Enquanto houver sociedade, haverá religião, pois é ela que permite a sociedade se pensar como totalidade”
Eu me atrevo a ir mais longe, enquanto houver religiosidade, haverá totalitarismo, pois praticar a religiosidade não é o mesmo que praticar a espiritualidade.
A religiosidade tem como tradição o tabu, as regras, a punição e o castigo, o que consequentemente promove naqueles mais inocentes ou desavisados, o medo de errar, o medo de ser castigado e o trauma por ser punido, ora, se estamos debatendo a possibilidade de sermos muito mais do que um ser egóico, não há dúvidas de que a punição/castração gera trauma, e um trauma instalado na alma, se reverbera por milênios.
Também não quero culpar a religiosidade pelos transtornos de personalidade, isso seria minimalista demais, mas sim desmistificar a questão do que é ser um “ser espiritual” que pratica a espiritualidade, e o que é ser um “ser religioso” que pratica a doutrinação, afinal de contas, não precisamos mais disso, somos perfeitamente capazes de assumirmos nosso verdadeiro tamanho moral sem ter que pedir a benção ou a autorização de ninguém. Dito de forma mais objetiva, não precisamos seguir padrões ortodoxos de terapia se somos progressistas, afinal de contas, estamos em constante evolução, e o tema está aí para ser discutido, basta abrir os olhos, pois, já existe na atualidade aulas de saúde, espiritualidade e religiosidade oferecidas como matérias adicionais no curso de medicina da USP.
Aceitar nossa condição de sermos um “ser espiritual”, pode ser fator primordial para trabalharmos a questão dos transtornos de personalidade, mas é impossível aceitarmos essa condição que nos é natural, sem entendermos verdadeiramente sobre o amor, e mais uma vez, fica explícita a diferença entre doutrinação e espiritualidade, pois o amor não pune, ele acolhe.
Somente através do auto amor é que seremos capazes de compreender de fato o que é ser um “ser espiritual”. Praticar a espiritualidade é praticar o auto amor.
Amar-se é acolher-se, é entender e aceitar seus defeitos, suas dores, resgatar suas partes perdidas no tempo e no espaço das desilusões com o objetivo de melhorá-las.
É buscar a consciência da realidade moral e egóica em que se encontra, e a partir disso, acessar o real potencial que se pode alcançar.
Amar-se é libertar-se do peso da culpa através da auto consciência, e é exatamente por isso que se trata de uma descoberta pessoal.
Juliana Dorotéa.
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